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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A igreja são as pessoas?

Felipe Reis

Do Blog o Tempo Final

É daquelas frases que muito ouvimos, especialmente quando queremos demonstrar simpatia, compaixão e solidariedade: “a igreja são as pessoas”. Mas será mesmo assim…?

É engraçado que esta frase – ou pretexto, ou argumento – é usada na maioria das vezes quando algo corre menos bem. Surge frequentemente como uma tentativa de minimizar algum mal, quando não mesmo branqueá-lo, ou como forma de aligeirar o peso da consciência que permita seguir em frente como se nada fosse.

Paralelamente, nunca é preciso uma frase destas para explicar ou fortalecer as realizações bem sucedidas.

Tendo andado a pensar e estudar este tema, cheguei à conclusão que não, a igreja não são as pessoas – as pessoas fazem parte da igreja, como um dos seus elementos de maior importância, mas que ir além disso é incorreto. E perigoso.

Vou tentar fazer-me entender: que a igreja não é o edifício no qual nos reunimos, parece-me ser uma ideia consensual. O que constitui o corpo de crentes é muito mais e nunca pode ser definido pela qualidade ou dimensão das paredes debaixo das quais fazemos os nossos cultos e assembleias.

Uma das razões para isso é que as paredes podem ser construídas pela mão humana, derrubadas e reconstruidas pelo mesmo processo, que em parte depende de fatores humanos cujo critério varia conforme os gostos pessoais e culturais.

O mesmo acontece com as pessoas. Tantas vezes entram, saem, deambulam sem sentido, andam desorientadas - tais como as paredes, erguem-se e caem, num comportamento efémero e de pouca confiança.

Ora, dizer que “a igreja são as pessoas”, é correr o grave risco de colocar sobre nós mesmos e os irmãos a razão da nossa permanência na igreja. É dizer que fazemos parte dele por causa das pessoas.

Não, a igreja não são as pessoas – a igreja é um conjunto de valores, princípios, fundamentos e doutrinas que estabelecem e definem em concreto, isso sim, o que é a igreja, e que, só por si, constituem a razão pela qual dela faço parte.

Eu não estou na Igreja Adventista do Sétimo Dia por causa das paredes, nem por causa das pessoas – se assim fosse, a humidade ou uma fissura no cimento, mais ainda um desentendimento com um irmão seria razão suficiente para abandoná-la e não mais fazer parte dela.

Quando baseamos a nossa qualidade de membro porque nesse slogan, quase comovente, reconheço, perdemos de vista o essencial, o que perdura mesmo sofrendo abalos, e passado algum tempo, sem darmos conta, nem sabemos o que somos e por que razão estamos nela

Mas, o que quer Deus da igreja? Com que objetivo Ele a colocou?

A igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir, e sua missão é levar o evangelho ao mundo. Desde o princípio tem sido plano de Deus que através de Sua igreja seja refletida para o mundo Sua plenitude e suficiência. Aos membros da igreja, a quem Ele chamou das trevas para Sua maravilhosa luz, compete manifestar Sua glória. A igreja é a depositária das riquezas da graça de Cristo; e pela igreja será a seu tempo manifesta, mesmo aos "principados e potestades nos Céus" (Efés. 3:10), a final e ampla demonstração do amor de Deus.” (Ellen White, Atos dos Apóstolos, p. 9).

Ou seja, baseada naqueles fundamentos atrás mencionados que definem o que ela é, na prática, a igreja é uma missão, que não depende das pessoas – esteja este ou aquele, Deus fará sempre cumprir o Seu propósito nela. Reforçando: nada dependente das pessoas que dela fazem parte!

E se ainda assim preferirmos ficar presos ao célebre “a igreja são as pessoas”, veja bem o aviso:

Os antigos porta-bandeiras sabiam o que significava lutar com Deus em oração, e fruir o derramamento de Seu Espírito. Estes, porém, estão se retirando do cenário; e quem está surgindo para preencher-lhes o lugar? Como é com a geração que surge? Estão eles convertidos a Deus? Estamos nós alerta quanto à obra que se está desenvolvendo no santuário celeste, ou estamos à espera de algum poder impelente que venha sobre a igreja antes de despertarmos? Temos esperança de ver toda a igreja reavivada? Tal tempo nunca há de vir. Há na igreja pessoas não convertidas, e que não se unirão em fervorosa, prevalecente oração” (idem, Mensagens Escolhidas, v. 1. 122).

Não, a igreja nunca pode ser as pessoas – estas, podem ser membros, frequentadores, etc.; mas a igreja é definida por parâmetros mais elevados, sagrados e estáveis do que as pessoas que dela fazem parte.

E é isso que nos dá a segurança para, errantes e pecadores, querermos fazer parte dela.

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