O Ministério de João
O apóstolo João passara a infância na sociedade dos incultos
pescadores galileus. Não desfrutara do preparo das escolas, mas, pela comunhão
com Cristo, o grande Ensinador, obteve a mais elevada educação que o homem
mortal pode receber. Bebeu avidamente da fonte da Sabedoria e, então, procurou
conduzir outros àquela fonte de água que salta "para a vida eterna".
João 4:14. A simplicidade de suas palavras, o sublime poder das verdades por
ele anunciadas e o fervor espiritual que caracterizavam seus ensinos, davam-lhe
acesso a todas as classes. Contudo, mesmo os crentes não podiam compreender os
sagrados mistérios da verdade divina esclarecida em seus discursos. Ele parecia
estar constantemente imbuído do Espírito Santo. Procurava induzir o povo a
apegar-se ao invisível. A sabedoria com a qual ele falava, fazia que suas
palavras caíssem como o orvalho, abrandando e subjugando a alma.
Depois da ascensão de Cristo, João tornara-se um fiel, ardente trabalhador pelo Mestre. Juntamente com outros, recebera o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecoste e, com zelo e poder novos, continuou falando ao povo as palavras da vida. Foi ameaçado de prisão e morte, mas não se deixou intimidar.
Multidões de todas as classes saem para ouvir a pregação dos
apóstolos e são curadas as suas enfermidades mediante o nome de Jesus - esse
nome tão odiado entre os judeus. Os sacerdotes e príncipes tornam-se frenéticos
em sua oposição ao verem que os doentes são curados e o nome de Jesus é
exaltado como o Príncipe da vida. Temem que em breve todo o mundo haverá de
crer nEle e então os acuse de assassinos do poderoso Médico. Mas quanto maiores
seus esforços para impedirem essa agitação, tanto mais crêem nEle os homens e
se apartam dos ensinos dos escribas e fariseus. Enchem-se de indignação e,
lançando mão de Pedro e João, atiram-nos na prisão comum. Porém, o anjo do
Senhor, de noite, abre as portas da prisão, tira-os para fora e lhes diz:
"Ide, apresentai-vos no templo e dizei ao povo todas as palavras desta
vida." Atos 5:20.
Com fidelidade e zelo, João testemunhou de seu Senhor em
toda a ocasião oportuna. Ele viu que os tempos eram cheios de perigos para a
igreja. Por toda parte existiam enganos satânicos. A mente do povo vagueava por
labirintos de ceticismo e de doutrinas enganosas. Alguns que professavam ser
fiéis à causa de Deus eram enganadores. Negavam a Cristo e Seu evangelho,
estavam produzindo danosas heresias e vivendo em transgressão da lei divina.
O Tema Favorito de João
O tema favorito de João era o infinito amor de Cristo. Ele cria em Deus como uma criança crê num pai bondoso e terno. Compreendia o caráter e obra de Jesus; e quando via seus irmãos judeus caminhando às apalpadelas, sem nenhum raio do Sol da Justiça para lhes iluminar o caminho, ansiava por lhes apresentar Cristo, a Luz do mundo.
O fiel apóstolo via que a cegueira deles, o orgulho, a
superstição e a ignorância quanto às Escrituras estavam-lhes pondo a vida em
correntes que nunca mais se partiriam. O preconceito e o ódio que
obstinadamente nutriam contra Cristo, estavam trazendo a ruína sobre eles como
nação e destruindo sua esperança de vida eterna. Mas João continuava a
apresentar-lhes Cristo como o único meio de salvação. A evidência de que Jesus
de Nazaré era o Messias estava tão clara que João declara que nenhum homem tem
necessidade de andar nas trevas do erro enquanto tal luz é oferecida.
Entristecidos Pelos Erros Perniciosos
João viveu o bastante para ver o evangelho de Cristo pregado longe e perto, e milhares aceitando avidamente seus ensinos. Mas encheu-se de tristeza ao perceber que erros perniciosos se introduziam na igreja. Alguns dos que aceitaram a Cristo afirmavam que Seu amor os desobrigava da obediência à lei de Deus. De outro lado, muitos ensinavam que a letra da lei deveria ser observada, como também todos os costumes e cerimônias judaicas, e que isso era suficiente para a salvação, sem o sangue de Cristo. Eles sustentavam que Cristo fora um bom homem, tanto como os apóstolos, mas negavam Sua divindade. João viu os perigos a que seria exposta a igreja, se seus membros recebessem essas idéias, de modo que as enfrentou com presteza e decisão.
Escreveu a uma grande auxiliadora do evangelho, uma senhora
de boa reputação e extensa influência:
"Muitos enganadores entraram no mundo, os quais não
confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o
anticristo. Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganhado;
antes, recebamos o inteiro galardão. Todo aquele que prevarica e não persevera
na doutrina de Cristo, não tem a Deus; quem persevera na doutrina de Cristo,
esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta
doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda
tem parte nas suas más obras." II João 1:7-11.
João não prosseguiu seu trabalho sem grandes embaraços.
Satanás não estava ocioso. Instigou homens maus para abreviarem a vida útil
desse homem de Deus; mas santos anjos o protegeram de seus assaltos. João
precisava ficar como uma fiel testemunha de Cristo. A igreja, em seu perigo,
necessitava de seu testemunho.
Pela representação maliciosa e falsidade, os emissários de Satanás procuraram despertar oposição contra João e a doutrina de Cristo. Em conseqüência, dissensões e heresias estavam pondo em perigo a igreja. João enfrentou estes erros com inflexibilidade. Vedou o caminho aos adversários da verdade. Escreveu e exortou, para que os dirigentes destas heresias não tivessem o menor estímulo. Presentemente, há males semelhantes aos que ameaçavam a prosperidade da igreja primitiva, e os ensinos do apóstolo sobre estes pontos deveriam ser cuidadosamente atendidos. "Deveis ter amor", é o clamor que se pode ouvir em toda parte, especialmente daqueles que professam a santificação. Mas o amor é demasiado puro para cobrir um pecado não confessado. Os ensinos de João são importantes para aqueles que vivem entre os perigos dos últimos dias. Ele estivera intimamente ligado a Cristo. Escutara Seus ensinos e testemunhara Seus poderosos milagres. Assim apresentou um convincente testemunho, que tornou sem efeito as falsidades de Seus inimigos.
Nenhum Compromisso com o Pecado
João desfrutou a bênção da verdadeira santificação. Mas notai: o apóstolo não proclama ser sem pecado; está em busca da perfeição, andando à luz da presença de Deus. Testifica que o homem que professa conhecer a Deus e, contudo, quebra a lei divina, nega sua profissão. "Aquele que diz: Eu conheço-O e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade." I João 2:4. Neste século de alarmante liberalidade, estas palavras seriam taxadas de carolice. Mas o apóstolo ensina que, conquanto devamos manifestar cortesia cristã, estamos autorizados a chamar o pecado e os pecadores por seu verdadeiro nome - que isto é coerente com o verdadeiro amor. Conquanto tenhamos de amar as pessoas por quem Cristo morreu e trabalhar por sua salvação, não devemos condescender com o pecado. Não nos unamos com os rebeldes chamando a isso amor. Deus exige de Seu povo atual que permaneça, como o fez João em seu tempo, inflexivelmente pelo direito, em oposição aos erros destruidores das pessoas.
Não Há Santificação sem Obediência
Tenho encontrado muitos que alegavam viver sem pecado. Mas
quando provados pela Palavra de Deus, mostraram-se ser transgressores
declarados de Sua santa lei. As mais claras evidências da perpetuidade e força
de obrigatoriedade do quarto mandamento, falharam quanto a despertar a
consciência. Eles não podiam negar as reivindicações de Deus, mas
aventuraram-se a desculpar-se por transgredirem o sábado. Tinham a pretensão de
ser santificados e de servir a Deus todos os dias da semana. Muitas pessoas
boas, diziam, não observam o sábado. Se os homens estão santificados, nenhuma
condenação repousará sobre eles se o não observarem. Deus é demasiado
misericordioso para puni-los por não guardarem o sétimo dia. Seriam
considerados como esquisitos na comunidade se guardassem o sábado, e não teriam
nenhuma influência no mundo. E eles precisam ser sujeitos aos poderes
constituídos.
Uma senhora, em New Hampshire, apresentou seu testemunho numa reunião pública, dizendo que a graça de Deus estava governando em seu coração e que pertencia inteiramente ao Senhor. Então exprimiu sua crença de que este povo estava fazendo muito bem quanto a despertar pecadores para verem seu perigo. Disse: "O sábado que este povo apresenta a nós, é o único sábado da Bíblia"; e então afirmou que estivera muito preocupada com este assunto. Vira grandes provações diante de si, as quais teria de enfrentar caso observasse o sétimo dia. No dia seguinte ela veio à reunião e, de novo, deu testemunho, dizendo que perguntara ao Senhor se precisaria guardar o sábado e que Ele lhe dissera que não. Sua mente estava agora em descanso quanto ao assunto. Ela fez então a mais vibrante exortação a todos para atingirem o perfeito amor de Jesus, onde não há nenhuma condenação para a alma.
Essa mulher não possuía a genuína santificação. Não fora
Deus quem lhe dissera que poderia ser santificada vivendo em desobediência a um
de Seus explícitos mandamentos. A lei de Deus é sagrada, e ninguém a pode
transgredir impunemente. Quem lhe disse que poderia continuar a quebrar a lei
de Deus e ser inocente, fora o príncipe dos poderes das trevas - o mesmo que
dissera a Eva, no Éden, por intermédio da serpente: "Certamente não
morrereis." Gên. 3:4. Eva se lisonjeou com o pensamento de que Deus era
demasiado bondoso para puni-la pela desobediência de Seus explícitos
mandamentos. O mesmo engano é apresentado por milhares, em desculpa de sua
desobediência ao quarto mandamento. Aqueles que têm o Espírito de Cristo,
guardarão todos os mandamentos de Deus independentes das circunstâncias. A
Majestade dos Céus diz: "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu
Pai." João 15:10.
Adão e Eva ousaram transgredir as ordens do Senhor, e o terrível resultado de seu pecado deveria constituir uma advertência para nós, a fim de não seguirmos seu exemplo de desobediência. Cristo orou por Seus discípulos, nestas palavras: "Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade." João 17:17. Não existe genuína santificação a não ser pela obediência à verdade. Aqueles que amam a Deus de todo o coração, também hão de amar a todos os Seus mandamentos. O coração santificado anda em harmonia com os preceitos da lei de Deus; porque eles são santos, justos e bons.
Deus não Mudou
O caráter de Deus não mudou. Ele é hoje o mesmo Deus zeloso
que era quando deu a Sua lei sobre o Sinai e a escreveu com Seu próprio dedo
nas tábuas de pedra. Aqueles que espezinham a santa lei de Deus podem dizer:
"Estou santificado"; mas estar santificado, de fato, e orgulhar-se de
santificação são duas coisas diferentes.
O Novo Testamento não mudou a lei de Deus. A santidade do
sábado do quarto mandamento está tão firmemente estabelecida como o trono de
Jeová. João escreve: "Qualquer que comete o pecado também comete
iniqüidade, porque o pecado é iniqüidade. E bem sabeis que Ele Se manifestou
para tirar os nossos pecados; e nEle não há pecado. Qualquer que permanece nEle
não peca; qualquer que peca [transgride a lei] não O viu nem O conheceu."
I João 3:4-6. Nós somos autorizados a considerar do mesmo modo que o fez o
discípulo amado, aqueles que se orgulham de permanecer em Cristo, de estar
santificados, ao passo que vivem na transgressão da lei de Deus. Ele enfrentou
justamente a mesma classe que nós temos de enfrentar. Disse ele:
"Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como
Ele é justo. Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o
princípio." I João 3:7 e 8. Aqui o apóstolo fala em termos claros, como
julga que o assunto exige.
As epístolas de João transmitem um espírito de amor. Mas quando ele chega em contato com essa classe que quebra a lei de Deus e ainda se orgulha de estar vivendo sem pecado, não hesita em adverti-la quanto a seu terrível engano. "Se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-Lo mentiroso, e a Sua Palavra não está em nós." I João 1:6-10.
Ellen White
Do Livro Santificação, Pags 61 - 69
Nenhum comentário:
Postar um comentário