Fonte -
http://redeadventista.com.br
publicado em: 20/03/2013 | 18:23
Em 12 de fevereiro (2013), postei no blog o terceiro
post sobre os “sete reis” de Apocalipse 17, para auxiliar o leitor a se
familiarizar um pouquinho com a interpretação historicista seguida pelos
adventistas do sétimo dia no estudo do Apocalipse.
No post recomendei a leitura da resposta de José Carlos Ramos sobre
esse tema, disponibilizada na Revista Adventista de junho de 2005,
página 10, na seção intitulada “Consultoria Doutrinária”.
Todavia, sendo que com o anúncio do novo papa – o cardeal argentino
Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco) – as especulações alarmistas e
sem fundamentação bíblica (ou histórica) se acentuam nas “mentes
irrequietas”, decidi disponibilizar, na íntegra, a resposta do então
diretor de pós-graduação do curso de teologia no Centro Universitário
Adventista (Unasp) em Engenheiro Coelho, SP.
Vale à pena conferir essa breve resposta, para que não se deixe levar
por especulações que em nada contribuirão para o crescimento
espiritual, e muito menos para o avanço da obra de Deus.
Antes, relembro que há uma terceira interpretação no meio adventista,
que não rejeita o método historicista. Essa metodologia de
interpretação (historicismo) é caracterizada por compreender as
profecias bíblicas de uma perspectiva histórica, considerando o passado,
presente e futuro. Tal sugestão interpretativa foi apresentada por
Ekkehardt Mueller, diretor associado do Biblical Research Institute da
Associação Geral da IASD em Silver Spring, Maryland, EUA.
Seu estudo exegético de Apocalipse 17 foi publicado em língua
portuguesa na revista teológica “Parousia”, e pode ser lido clicando
aqui.
As duas interpretações destacadas por José Carlos Ramos, e a sugestão
interpretativa de Ekkehardt Mueller são embasadas e livres de qualquer
interpretação fantasiosa que aparece em artigos e em livros de “profetas
de plantão”. Há um desses “profetas” por aí dizendo que o Papa
Francisco é o “último papa” a assumir o trono do Vaticano antes de Jesus
voltar. Infelizmente, ele também irá se decepcionar com o passar do
tempo, do mesmo modo que muitos outros. Desejo sinceramente que Deus
conforte tais irmãos em tal momento de angústia.
Todavia, reconheço que Jesus pode voltar a qualquer instante (Mt
24:42, 44), porém, especular sobre Sua volta tendo como “base” a
ascensão de um “papa”, a meu ver, é muito perigoso, além de
fictícia.
Essa teoria contradiz de maneira “mascarada” o texto de Mateus 24:36,
que afirma não ser possível saber o dia e a hora da volta do Salvador
(leia também Atos 1:7).
A teoria de que Francisco é o “último papa antes de Cristo voltar”
leva a uma agitação prejudicial e que desvia a atenção do verdadeiro
centro das profecias apocalípticas,
Jesus Cristo, e da nossa real missão: pregar o “evangelho eterno” (Ap 14:6), contextualizado nas Três Mensagens de Apocalipse 14:6-12.
Por isso, sugiro que leia com atenção o artigo a seguir, da autoria
de José Carlos Ramos, e que atente para seu conselho final nos últimos
dois parágrafos. Além disso, recomendo que assista a palestra de Alberto
Timm, intitulada “Papado: Declínio ou Ascenção?”, ministrada no
programa “Conection”, na Washington Brazilian SDA Church em 9 de março
de 2013.
Ela pode ser assistida ao clicar
aqui. Nessa palestra, você verá (entre outras coisas) que a profecia enfatiza
o papado como um todo – ao invés de “papas isolados” – como o poder mencionado tanto em Daniel 7:25, 8:9-12 e Apocalipse 13.
Em breve postarei uma resposta a algumas alegações de um
sensacionalista. Em uma delas ele afirmou que minha explicação sobre
Apocalipse 17, dada no programa “Na Mira da Verdade”, não possui
embasamento histórico. Porém, ao analisar os pressupostos dele,
poderemos desmentir vários sensacionalistas de uma só vez – o que será
bastante útil para os sinceros estudantes das profecias.
A seguir, a resposta de José Carlos Ramos. Ótima leitura!
[
http://leandroquadros.com.br/livros/]
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“Teoria do sexto rei contra-ataca”
Com a morte do papa, reascendeu aqui em nossa congregação a teoria
dos sete reis. Poderia comentar alguma coisa sobre essa teoria? Qual,
por exemplo, seria sua principal fragilidade? E. K.
A posição da IASD com respeito a Apocalipse 17:9 e 10 continua sendo a
mesma de antes da morte de João Paulo II. Respeitando o sistema de
interpretação profética que ela assume, o historicismo, interpretamos de
duas maneiras os “sete reis” relacionados nesse texto:
Primeira: Eles representam sete formas de governo
romano desde a fundação de Roma, as quais são: realeza, consulado,
decenvirato, ditadura, triunvirato, império e papado.
Quando o Apocalipse foi escrito – as cinco primeiras formas haviam
passado – a História registrava o domínio da sexta, e o domínio da
sétima (o papado) ainda viria; ou
Segunda: Os “sete reis” representam sete reinos ou
impérios que perseguiram e maltrataram o povo de Deus no transcurso da
História, começando com o Egito, e prosseguindo com a Assíria,
Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma Imperial e Roma Papal. Da mesma
forma, no tempo do apóstolo João, os cinco primeiros desses reinos, ou
poderes, haviam passado, o sexto dominava e o sétimo ainda viria. O
verso 11 também fala do “oitavo rei”, que “procede dos sete”. O único
dos sete, que de fato retornará, é o papado, que, quando plenamente
curado de sua ferida mortal, exercerá a supremacia em todo o mundo
(Apoc. 13:3).
Contrariando a posição historicista da Igreja, ultimamente tem sido
ventilada uma forma de interpretação distinta, conhecida como teoria do
sexto rei, e que lamentavelmente tem sido apresentada como verdade em
alguns círculos adventistas: “Os sete reis de Apocalipse 17:9 e 10 são
os sete papas que assumem a direção do Romanismo desde 1929.”
Por que desde 1929? Porque nesse ano o Cardeal Gasparri e Benito
Mussolini, premier italiano entre 1922 e 1943, assinaram o Tratado de
Latrão estabelecendo o Estado do Vaticano e assegurando à Santa Sé
independência absoluta e soberania de caráter civil e político. Supõe-se
que aí tenha ocorrido a cura da ferida mortal infligida à besta
(Apoc.13:3, primeira parte). Mas, se realmente a cura ocorreu em 1929,
porque o papado até hoje não logrou um domínio mundial?
Pois a profecia afirma que, uma vez efetivada a cura, “toda a terra
se maravilhou, seguindo a besta” (v. 3, u.p.). Segundo a teoria, o sexto
rei é João Paulo II, e seu sucessor, Joseph Ratzinger, o sétimo. O
“oitavo” virá em seguida, como o último a exercer o primado; isto é, ele
avançará até a volta de Jesus. Mas, segundo a profecia, o oitavo e
último será um dos sete anteriores. Pergunto: Se os seis primeiros papas
já morreram (e, segundo a própria teoria, não será o “sétimo” que
retornará), como então um deles será o “oitavo”? Como se cumprirá a
profecia que afirma que o “oitavo procede dos sete”?
A “fragilidade principal” dessa teoria é precisamente seu erro
fundamental: o ter ela se desviado do pensamento profético
interpretativo da Igreja, o historicismo, e descambado para um
dispensacionalismo, ou futurismo disfarçado (o dispensacionalismo
interpreta as profecias jogando a maior parte de seu cumprimento para o
futuro). Toda vez que isso ocorrer, estaremos subestimando a luz que
Deus, desde o princípio, fez incidir sobre nós, e o resultado não será
bom. Jamais deveríamos esquecer que o historicismo transparece na forma
como nosso Salvador tratou as profecias de Daniel (ver o discurso
escatológico registrado em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21), e na forma
com que o apóstolo Paulo se referiu à vinda do anticristo em II
Tessalonicenses 2. E, claro, Ellen G. White, como mensageira do Senhor,
não poderia adotar outro sistema. É suficiente uma olhadela no livro O
Grande Conflito para se constatar que ela, de fato, foi historicista em
sua abordagem profética.
Faz algum tempo, estive em Curitiba dialogando com um dos defensores
da teoria; alguém que, anos antes, havia lançado um livro a respeito
desse assunto. Nessa obra, ele afirmara que João Paulo II iria renunciar
e seria sucedido por um papa que governaria por pouco tempo (pois seria
um desastre para a Igreja) e, então, o mesmo João Paulo II retornaria
ao poder como o “oitavo”, cumprindo assim o detalhe profético da
procedência dentre os sete.
Na oportunidade, afirmou-me o autor estar consciente de que, se o
papa viesse a morrer, sua teoria se mostraria um equívoco. E não deu
outra coisa. Agora existem aqueles que, não reconhecendo o fracasso da
teoria, querem coser um tampão na “brecha”, tentando, face ao
falecimento do papa, adaptá-la ao novo contexto; andam afirmando que o
recém-falecido papa será clonado, ou que o diabo irá contrafazer uma
ressurreição dele, ou, ainda, que esse papa, uma vez canonizado,
“aparecerá” (naturalmente por imitação maligna) para, novamente, assumir
o trono do Vaticano! É assim que “um abismo chama outro abismo”
(Sal.42:7). Mas, como geralmente acontece em artimanhas do tipo, é muito
provável que o remendo aqui, como diz o ditado, venha a ser “pior que o
soneto”. Essas e outras fantasias afins são ótimas para Hollywood (e
seus filmes de ficção), mas não para o povo de Deus.
Por que esses “adventistas”, amantes do ineditismo e do
sensacionalismo, não vão pregar aos perdidos que anseiam pelo Evangelho
puro, límpido, fundamentado num insofismável “assim diz o Senhor”, e não
rompem, de vez, com ideias especulativas que só geram confusão? Quando
vão acordar para o fato de que devem construir e não demolir?
Comissionado pelo grande Mestre, o povo de Deus tem uma missão a
cumprir em todo o mundo. Não trabalhamos com meras conjecturas. Há uma
verdade clara e objetiva para ser proclamada ao mundo, uma verdade
incorporada na tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14.
Não é hora de nos aventurarmos com fantasias inconsequentes, de
gastarmos o precioso tempo que nos resta com produtos secundários,
oriundos de mentes irrequietas.
José Carlos Ramos, diretor de pós-graduação do Salt, campus Engenheiro Coelho, SP.