Seguidores

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Apocalipse: auxílio divino na hora certa

Apocalipse: auxílio divino
na hora certa - Parte 01
Dr. José Carlos Ramos
Janeiro, 2014
            O maior livro profético da Bíblia, o Apocalipse, foi escrito para orientar, estimular e fortalecer a Igreja em todos os tempos. De fato, desde que fundada por Jesus, ela se viu em meio às tormentas e enganos de um mundo hostil e ameaçador, inimigo do bem e de quantos se colocam do lado de Deus e de Sua vontade. Cristo advertiu Seus seguidores a que não se iludissem com a ideia de que não enfrentariam dificuldades no trajeto para o céu. O evangelho da prosperidade, pregado por algumas igrejas atuais, não condiz com as claras afirmações bíblicas, de que todos aqueles “que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3:12), e de que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14:22).
            Satanás, o rebelde inimigo de Deus e de Seu povo, tem empregado dois recursos básicos na tentativa de destruir a Igreja: a perseguição, motivada pelo preconceito e intolerância do mundo, e a disseminação do engano, para o quê ele forçaria a entrada nos domínios do cristianismo. E foi exatamente nesse contexto duplo de artifício satânico que o Apocalipse emergiu. O ano era 95AD, quando a Igreja enfrentava dois tipos de ameaça, uma interna, a adoção de conceitos pervertidos, e outra externa, a perseguição por parte do mundo. Naturalmente entendemos que a primeira, sutil e por isso perigosa, sempre resultou em maior dano espiritual. Consideremo-la inicialmente.
Ameaça interna
            No fim do I século, uma filosofia religiosa, grega de origem, conhecida como gnosticismo era difundida em todo o império romano. Sustentando múltipla expressão de pensamento e prática, o gnosticismo estava sendo, já por algum tempo, uma séria ameaça para a pureza doutrinária da fé cristã, com respeito principalmente à pessoa do Salvador, à natureza da criação divina, à natureza do ser humano, e à forma como este poderia ser redimido.
            Muitos na Igreja se sentiam atraídos por conjeturas que ofereciam uma lisonjeira perspectiva de superação dos obstáculos à posse plena da vida autêntica, disponível, segundo a filosofia, apenas àqueles que obtivessem o conhecimento dos mistérios divinos. Tal conhecimento, identificado como gnosis, era supostamente outorgado, é claro, àqueles que adotavam o gnosticismo. O cumprimento de certos rituais de iniciação conferia ao candidato o título de mystes, o que outorgava a obtenção progressiva de um conhecimento que, era crido, libertá-lo-ia e lhe daria uma condição superior de vida. Naturalmente as verdades do Evangelho eram distorcidas, e o pecador era acalentado num ilusório e fatal sentimento de segurança.
            Por esse tempo, alguns mestres cristãos deixavam transparecer suas tendências gnósticas. O gnosticismo tornara-se agora uma ameaça interna real. Entre esses mestres, destacava-se certo judeu cristão do Egito, formado em Alexandria, e que habilmente conseguiu revestir os ideais gnósticos com uma roupagem cristã. Chamava-se Cerinto e seus ensinos conspiravam contra a estabilidade da Igreja na Ásia Menor, particularmente Éfeso, o domicílio do apóstolo João em seus derradeiros anos.
            O que Cerinto ensinava? Como gnóstico, ele considerava a matéria essencialmente má. Deus não poderia ter criado diretamente o mundo, pois este é matéria, e Deus não Se relaciona com algo essencialmente mau. Deus, portanto, usara intermediários para criar. Um desses era Cristo, o qual não deveria ser confundido com Jesus, o vulto histórico que vivera na Palestina, e que, embora extraordinário, era um homem comum, filho natural de José e Maria. Cristo, entretanto, era espiritual, celestial e divino. Jesus e Cristo, portanto, eram distintos um do outro. Cristo se juntara a Jesus por ocasião do batismo, mas O abandonara pouco antes da cruz. Assim, a morte de Jesus não reunia qualquer valor salvífico. Ele fora apenas mais um mártir entre outros.
            Cerinto também ensinava uma escatologia antibíblica. Escatologia é a doutrina dos últimos acontecimentos, tanto para o ser humano individualmente, como para o mundo. Para o gnosticismo, a salvação começava para quem se apoderasse da gnosis. Tal aquisição contribuía para a libertação da alma, prisioneira que era de coisas ligadas à matéria. Todavia, a libertação plena e definitiva ocorria na morte. Para o gnóstico, o corpo era um cárcere, e quanto mais cedo a alma se livrasse dele, melhor. Portanto, a teoria da imortalidade da alma é de origem greco-pagã, e não é parte do cristianismo original.
            Em seu Evangelho e primeira Epístola, João combate frontalmente a dicotomia herética de Cerinto (tanto relativo ao homem como a Jesus) e outros enganos do gnosticismo. E no Apocalipse ele não deixa por menos. Já na abertura, João afirma que a revelação divina, o único meio de se obter a verdadeira gnosis, ou conhecimento, é feita por Jesus Cristo (1:1). Os dois termos indicam que apenas uma pessoa é pretendida. A designação completa, Jesus Cristo, aparece mais duas vezes neste capítulo, nos versos 2 e 5, o último contendo a declaração de que Ele é o “primogênito dos mortos” ou seja, Cristo positivamente morreu e ressuscitou. João não poderia ser mais claro. Ademais, é Este mesmo Jesus Cristo que em seguida apareceu em visão e lhe disse: “Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos” (v. 18)
            Além disso, observamos que, em termos de literalidade, é o Filho da mulher que é arrebatado para o trono de Deus em 12:5, e que o sacrifício de Jesus é de fato salvifico, pois garante ao homem o triunfo sobre Satanás (v. 11). Este sacrifício é também condição sine qua non para que a revelação, sem a qual, repetimos, não é possível nenhum correto conhecimento de Deus, se torne efetiva (5:5, 9). Finalmente, é este sacrifício que nos coloca no reino eterno (7:14-17; 22:14). A posse da vida autêntica, portanto, não ocorre nas condições do gnosticismo.
            Que a matéria não é essencialmente má, ao contrário de como entendia Cerinto, e que Deus é o direto criador dela, se depreende das palavras de 4:11. Além disso, Deus recriará o mundo após colocar um ponto final na história do pecado (caps. 20 a 22). E com isto, João contradiz a escatologia gnóstica com uma grandiosa descrição dos verdadeiros eventos finais: Deus extirpará o pecado e trará de volta, agora mais plenamente, o mundo perfeito e imaculado de antes. E João contesta o engano gnóstico da imortalidade da alma reafirmando que os crentes mortos tomarão posse da vida eterna exclusivamente através da ressurreição quando Jesus voltar (20:6).
            E assim, justamente quando conceitos falsos ameaçavam, na Igreja, a unidade da fé e da esperança, Deus fez o Apocalipse emergir. O fim do primeiro século estava chegando. Por algum tempo a Igreja esperara o retorno de seu Senhor, e Ele não viera. O gnosticismo acenava com as glórias da salvação já e agora com a posse da gnosis, e com a perspectiva da ida para o céu logo após a morte. Cristo então retornaria para quê?
            A Igreja, portanto, estava carecendo uma vez mais do amparo da verdade para o fortalecimento da esperança adventista, isto é, a esperança na segunda vinda de Jesus, como algo plenamente genuíno e necessário. A isto o Apocalipse se prestou de forma singular.
            Hoje vivemos no século 21. Cristo ainda não retornou e igualmente somos bombardeados com todo tipo de ideias, todas tentando se impor como verdadeiras. Que fazer? Nossa única alternativa segura é volver a atenção ao que a Bíblia diz. Particularmente o Apocalipse revela o que está para acontecer. Simplesmente não precisamos ser enganados.  
           Continuaremos na próxima postagem.

Fonte - Clarim Profetico

Nenhum comentário:

Postagens de Destaque