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domingo, 23 de junho de 2013

Resposta do Dr. andré Reis, ao artigo do Pastor Rafael Rossi

Publiquei neste Blog, a matéria do Pr. Rafael Rossi da associação ministerial da Divisão Sul Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que trata das manifestações que tem ocorrido ultimamente no Brasil, contra a Corrupção e as mazelas que assola o nosso país.
A matéria é oficial. É a orientação da DSA, para que a igreja fique fora das tais manifestações. 
A declaração foi publicada na sua página do Facebook e pode ser lida aqui https://www.facebook.com/rafaelrossi7/posts/639911429369930 . Ela foi enviada a todos os pastores na Divisão Sul Americana como "posição oficial da Igreja".

O Pastor Andre Reis, doutor em teologia e editor do site Adventismo Hoje, escreveu uma resposta ao artigo do Pastor Rossi, que também tenho o prazer de publicá-lo aqui. 
Ao publicar a matéria do Dr, André Reis, não o faço por discordar da opinião e orientação oficial de minha igreja, tampouco pelo prazer do debate em si, mas por acreditar que todo discurso, merece uma réplica, e é no contraditório que a gente aprende, pois tem a oportunidade de ver os dois lados da questão.
Como diz o ditado popular. "Todo debate tem três lados. O lado de um, o lado do outro e o certo"
Portanto leiam a matéria a seguir

(Obs. Minha posição sobre as manifestações, estão publicadas neste blog cujo título das matérias são: "É pecado ser politico?"  " O tiro saiu pela culatra" e "Os baderneiros são petistas a serviço do partido")


 

Já ronda a internet uma declaração do nobre Pr. Rafael Rossi da Associação Ministerial da Divisão Sul Americana sobre as manifestações populares
no Brasil. A declaração foi publicada na sua página do Facebook e pode ser lida aqui https://www.facebook.com/rafaelrossi7/posts/639911429369930 . Ela foi enviada a todos os pastores na Divisão Sul Americana como "posição oficial da Igreja".

A declaração é refratária à participação de jovens Adventistas nos movimentos atuais. Mas ela deixou a desejar pelas seguintes razões: 

1. Mau uso de Ellen White. A nota cita depende fortemente de Ellen White e pouco da Bíblia. Por exemplo, a declaração de Ellen White que afirma que "o Salvador não tentou nenhuma reforma civil" (DTN 358) está fora do contexto. A missão de Jesus realmente não era subverter o governo Romano, era salvar o mundo do pecado. Por essa razão, precisamos entender como era a realidade civil do governo totalitário romano no primeiro século frente a missão específica de Jesus e por fim a realidade da democracia brasileira no século 21. Tentar equipará-las levaria a um anacronismo infeliz e à hermenêutica tendenciosa. 

Além disso, a afirmação correta de Ellen White sobre a missão de Jesus não implica na abstenção completa de nossos deveres civis ou no ostracismo social do Adventista. Afinal, não é envolvimento ou reforma civil o próprio ato de "votar"? Deveriam os Adventistas tomar a posição da abstenção do voto?

A segunda declaração de EGW usada no texto: “Não pelas decisões dos tribunais e conselhos, nem pelas assembleias legislativas, nem pelo patrocínio dos grandes do mundo, há de estabelecer-se o reino de Cristo, mas pela implantação de Sua natureza na humanidade, mediante o operar do Espírito Santo" nada tem a ver com a busca por um mais elevado padrão de justiça social e manifestações contra a corrupção contumaz e aterradora que assola o país em todos os escalões do governo e da vida pública. 

2. O conformismo é preferível. A declaração do Pr. Rossi pende ao conformismo. Em outras palavras, "Deixemos como está para ver como é que fica". Nesse quesito, tal posição empalidece frente à declaração brilhante feita pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil sobre o motivo dos atos:

"Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos….

A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana."

E eu pergunto: Onde está a declaração oficial a IASD no Brasil sobre a razão fundamental dos protestos, a saber, o repúdio à ultrajante desigualdade social, a descarada corrupção, a implacável violência, o descaso pela vida na sociedade brasileira? Por que o repúdio aos atos isolados de violência enquanto os atos de violência do governo contra o povo não são confrontados?

A declaração de Rossi continua dizendo: "A nossa força não deve estar nas manifestações por justiça...". Mas porque essa não é nossa missão específica, devemos evitar por completo o ativismo social? 

O fato é que os Adventistas já participam de passeatas há muito tempo. Os Desbravadores fazem passeatas constantemente contra a violência, o abuso de drogas, contra o tabagismo, etc. como essa aqui patrocinada pela União Nordeste:

http://www.uneb.org.br/fotos/1035/passeata-dos-desbravadores-contra-a-violencia/

Como essa, ocorrem muitas todos os anos no Brasil. Não é incoerente a crítica às atuais passeatas em âmbito nacional para melhoramento da sociedade enquanto nossos jovens têm há décadas se engajado no mesmo tipo de atividade sem o repúdio denominacional. Sem dúvida temos que repudiar a violência, mas proporcionalmente, esses casos são isolados. O fato é que manifestações públicas demonstram preocupação, levam à conscientização e à ação. 
 

A história também dá exemplos de que revoltas contra governos tiveram profunda importância para a história do povo de Deus. Não tivessem os judeus se revoltado contra Antíoco Epifânio, que sacrificou porcos no altar do Templo (c. 164 BC) o ritual do Templo não teria sido reestabelecido. Jesus celebrou essa conquista em Jerusalém ao participar da "festa da dedicação" do Templo em João 10:22-24 que hoje é celebrada como o Hannukah judaico. Na maioria dos países do mundo, a igreja cristã desfruta de paz  e livre expressão porque muitos derramaram seu sangue por essa liberdade. É um pouco incoerente a postura de conformismo e omissão quando dependemos desses movimentos para cumprir a nossa missão.

O fato é que IASD desde seus primórdios tem tido uma atitude ambivalente quanto a movimentos políticos. Na América da primeira metade do século XX a Igreja manteve-se longe da luta pelos direitos dos negros; na maioria das Uniões adventistas na América existem Associações de negros e Associações de brancos. Na Alemanha de Hitler, a Igreja Adventista se curvou ao peso do Nazismo. Talvez seja hora de mudar a atitude que pretende "espiritualizar" demais assuntos que simplesmente necessitam de ação prática e inteligente.

 




3. Culpa por associação? A declaração do Pr. Rossi em favor do conformismo não é convincente ao dizer: "Não é errado defender suas ideias e ideais, mas o problema é que nessas manifestações existem pessoas com intenções equivocadas que não combinam com os nossos pensamentos e princípios cristãos. … " Ele indaga: "É esse um lugar seguro para estarmos?" 

O fato é que, na atual conjuntura do país, NENHUM lugar é "seguro para estarmos"! Não seria essa uma maior preocupação?

Tal argumento é fruto da falácia lógica da culpa por associação. Em outras palavras, a manifestação pacífica torna-se questionável por causa de alguns focos de violência. Seria o mesmo argumento que pretende desencorajar o uso de armas pela polícia só porque assassinos e traficantes fazem uso das mesmas.

Ele continua: "O objetivo é desestabilizar os governos por meio da manipulação popular."

A conclusão está equivocada, já que o objetivo patente dos atos é trazer justamente o contrário: maior estabilidade e equilíbrio ao país através do envolvimento do povo nas decisões! E o que dizer do desequilíbrio causado pelo próprio governo? E seria realmente condenável a tentativa de "desestabilizar" por atos pacíficos de conscientização social a um governo que está absolutamente atolado até o pescoço no lamaçal da roubalheira, do abuso de poder, da violência pela omissão contra o cidadão comum?

4. Omissão pela missão? Em seu apelo ao conformismo, o Pr. Rossi apela para o ideal da busca pela pátria celestial. Certo. O problema é que esse ideal não é incompatível com a missão de tornar esse mundo um mundo de justiça, segurança e paz! Não vamos abandonar de vez o planeta que Deus nos deu para administrarmos somente porque há uma "pátria além". Afinal, a crença no céu não deve me tornar absolutamente irrelevante na terra.

O Sermão da Montanha (Mat 5) nada mais é do que um manifesto por uma sociedade em que predomina a justiça:

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos". (v. 6)

"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus (v. 9).

Não é esse o grito do povo que sai às ruas? E mais:

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.

Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte"



Enganam-se os que pensam que esse sermão fala sobre a vida na Igreja. Ele fala da vida fora dela! Ele tem a ver com a terra, com o que ocorre no dia a dia dos seres humanos e como os cristãos relacionam com o mundo. Que impacto teria a IASD se clubes de Desbravadores organizassem passeatas silenciosas em solidariedade ao povo?

5. A declaração encerra dizendo "Lembre-se sempre: “Crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros”. (2Cr. 20:20)." 

Creio que ele se refere às declarações de Ellen White acima que, como vimos, não tratam de manifestações pacíficas pela justiça que ocorrem hoje no Brasil. E diga-se de passagem, a declaração fez mal uso não só de Ellen White bem como da Bíblia ao usar textos que pouco têm a ver com o assunto em pauta.

Conclusão: A nota da Associação Ministerial da Divisão infelizmente não responde às inquietações de nossos jovens sobre as condições atuais da sociedade brasileira e a necessidade de um maior envolvimento da Igreja Adventista nas grandes questões sociais que assolam o Brasil e a América Latina em geral. Ao contrário da declaração anêmica acima, a Igreja Adventista precisa na verdade se posicionar fortemente contra a corrupção governamental e deixar de lado a posição do silêncio e conformismo pela conveniência. A participação ativa na criação de uma melhor sociedade brasileira por parte de nossos jovens, em que pese sua segurança e bem estar, deve ser encorajada e não criticada ou coibida.

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Um comentário:

Joao Morais disse...

Lamentavelmente, ficou muito confusa a Declaração Oficial da Igreja Adventista, se tivesse ficado calados seria melhor que falar algo que não diz nada e só confunde mais ainda.

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