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quarta-feira, 26 de junho de 2013

A MORTE DA DEMOCRACIA AMERICANA

ARTIGO

A MORTE DA DEMOCRACIA AMERICANA
Wanderson Vieira da Silva

O governo democrático americano utiliza-se de práticas de regimes totalitários em favor da segurança nacional

Os últimos acontecimentos nos Estados Unidos relacionados ao monitoramento de dados das pessoas promovido pelo governo despertou uma grande preocupação por parte da opinião pública em relação à ameaça à liberdade e à democracia tão defendidas por essa nação. Um fator que revelou essa preocupação foi o aumento estratosférico das vendas do livro 1984 de George Orwell, publicado em 1949, em mais de 7000%.[1] O motivo é porque o livro denuncia de forma detalhada as futuras estratégias dos Estados totalitários na tentativa de restringir a privacidade dos indivíduos que são bem semelhantes às apresentadas pelos Estados Unidos, hoje.
O presidente Barack Obama tem sofrido duras críticas por invadir a privacidade dos indivíduos na tentativa de obter dados confidenciais comprometedores. Essa prática de espionagem tem sido encarada como violação declarada dos direitos civis. Tal atitude ameaça de morte o que há de mais importante nessa nação: a democracia.
Sendo os Estados Unidos da América conhecidos historicamente como o país símbolo da liberdade individual e da democracia, por que então essa nação estar lançando mão de comportamentos típicos dos regimes totalitários? Ao fazer uma reflexão sobre as notícias de violação de privacidade por parte do governo americano, acredito que pelo menos três fatores estão motivando a desconstrução dos sólidos muros democráticos desse país.

A Crise
O primeiro fator tem que ver com a crise. A crise de qualquer espécie desmantela qualquer sistema social, político, religioso e econômico sólidos. Marvin Moore jornalista e escritor, reproduzindo o pensamento do livro The Addictive Organization, salientam que “as crises são usadas para desculpar ações drásticas e equivocadas por parte dos administradores”.[2] Além disso, ressalta também que “quando a norma é a crise, a administração tende a assumir uma quantidade perigosa de poder a cada dia”.
Moore acrescenta ainda, ao citar Michael Barkun autor da obra Disasters and the Millennium, que “o desastre cria condições especialmente adaptadas à rápida alteração de sistemas de valores”.[3] Sendo assim, as chances de um indivíduo ou grupo de pessoas abandonarem antigos valores há muito acalentados como consequência de um desastre ou crise é muito grande. Moore afirma também que “sistemas de crenças que talvez fossem rejeitados em condições livres de desastre, agora recebem consideração favorável”[4].

Com os ataques de 11 de setembro de 2001, a América se viu mergulhada em uma crise estratosférica de segurança nacional. Diante disso, os líderes americanos se viram obrigados a rever os seus conceitos democráticos de liberdade individuais há muito defendidos. Então, a primeira atitude do governo americano foi lançar mão de um movimento de violação dos direitos civis. Os Estados Unidos passaram a grampear secretamente e-mails e telefonemas de indivíduos sem consulta prévia ou autorização judicial. Os últimos passos nessa direção dado pela política americana foram revelados na mídia recentemente quando o governo realizou uma “coleta indiscriminada de registros telefônicos de milhões de cidadãos pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês)”.[5]
Fica claro com isso que, a fim de promover a segurança da nação americana, o governo buscou viéis que regimes totalitários se utilizaram no passado e ainda usam hoje. O país mais livre do mundo abriu mão da democracia para agir autoritariamente e até violar os direitos civis há muito defendido por ele. Atestando com isso o óbito da sua democracia.
Monopolização da Informação
A monopolização da mídia americana é outro fator que tem facilitado o governo americano minar a democracia com suas ações totalitárias. A informação jornalística na mão de poucas corporações está conduzindo a America ao enfraquecimento do debate e ao fortalecimento da alienação popular. Ruben Dargã Holdorf, em seu artigo O fim da democracia norte-americana: A imprensa leva a culpa[6], alerta que “quando as comunicações se aglutinam sob o comando e orientação de poucos ou somente uma empresa jornalística, ocorre o risco da manipulação”.
Vanderlei Dorneles, em sua obra O Último Império acrescenta que “com a Comissão Federal de Comunicação, a legislação rígida sobre imprensa vem sendo alterada”[7]. E hoje, segundo Dorneles “nada menos que 90% de tudo que os americanos veem, ouvem e leem são produzidos por apenas seis empresas, que no passado foram mil, (AOL, Time Warner, Viacom, Disney, General Eletric, News Corporatione Vivendi Universal)”.[8]
Como esse processo de monopolização da informação, que não permite a população ter acesso a diferentes pontos de vista, e com isso, criticar as decisões autoritárias do governo, faz com que o risco de morte da democracia desse país seja cada vez maior, a cada dia que passa.
Os Ataques Preventivos ao Inimigo
No passado, sobretudo em 2001, o governo americano iniciou uma prática de atacar preventivamente o inimigo. Essas ações tem-se revelado nitidamente como ações totalitárias. Dorneles revela o pensamento base desses ataques ao afirmar que “quando os interesses e a segurança dos Estados Unidos estiverem em questão, eles não hesitarão em ‘agir sozinhos’, referindo-se a uma completa independência em relação aos aliados e às Nações Unidas”[9].
Hoje, o investimento do Estado Americano estar sendo canalizado para uma nova modalidade de ataques preventivos como os “ciberataques”. Por meio dessa iniciativa, apresentado pelo senador John Edwards, o governo deve fornecer US$ 350 milhões durante os próximos cinco anos para o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologias[10], a fim de produzir tecnologias de informação mais eficientes no combate ao terror.
Esses ciberataques permitem ao governo invadir ou atacar os computadores de instituições, organizações, empresas e indivíduos suspeitos de terror, isso sem autorização judicial. Assim, mais uma vez, a América se revela uma nação verdadeiramente autoritária, que aos poucos vem minando a sua própria democracia.
Conclusão
Contudo tais tentativas em direção ao enfraquecimento da democracia norte-americana foram denunciadas pela escritora Ellen White, há mais de cem anos. Em sua obra mais famosa, publicado no final do século 19, alerta de forma contundente as atuais ameaças à liberdade individual quando diz que “a corrupção política está destruindo o amor à justiça e a consideração para com a verdade; e mesmo na livre América do Norte ... a liberdade, obtida a tão elevado preço de sacrifício, não mais será respeitada”.[11]
Portanto, resta-nos reagir veementemente contra essas iniciativas totalitárias do governo americano, pois se essas práticas forem copiadas por outras nações, tendo como justificativa a segurança, poderemos presenciar um ressurgimento do totalitarismo no Ocidente sem precedentes na história.
Wanderson Vieira da Silva é pastor adventista e distrital em Paraiso - Tocantins
 
2013 © Wanderson Vieira da Silva – wandervs2000@hotmail.com


[2] MOORE, Marvin. Apocalipse 13: leis dominicais, boicotes econômicos, decretos de morte, perseguição religiosa - isso poderia realmente acontecer? 1 ed. Tatui: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 248.
[3] Idem, p. 251.
[4] Ibdem.
[5] PACIORNIK, Celso. Ameaça à Democracia. [S.I]: Estadão.com.br/Internacional. Disponível em   Acesso em 26 jun.2013, 14:50:40.
[6]HOLDORF, Ruben Dargã. O fim da democracia norte-americana: a imprensa leva a culpa. Web Site Sala de Prensa: Disponível em Acesso em 26 jun.2013, 14:41:29.
[7] DORNELES, Vanderlei. O último império: a nova ordem mundial e a contrafação do reino de Deus. 1 ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 160.
[8] Idem.
[9] Ibdem, p. 161.
[11] WHITE, Ellen G. O grande conflito. ed. 22. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009, p. 566.

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